Uma pesquisa recente da Febraban aponta para um cenário de desaceleração do crédito em 2025. Bancos revisaram para baixo suas projeções de crescimento das carteiras, refletindo a piora da economia e a perspectiva de juros mais altos.
No agronegócio, o quadro se agrava com a suspensão, pelo Tesouro Nacional, de novas contratações de financiamentos com juros subsidiados do Plano Safra 2024/2025 a partir de 21 de fevereiro. A exceção fica para o custeio do Pronaf, voltado à agricultura familiar, que permanece liberado.
Apesar do crescimento menor projetado pela Febraban, o consultor em finanças do agro Ademiro Vian acredita que pequenos e médios produtores não serão tão afetados pelo volume de recursos, já que boa parte do financiamento vem da exigibilidade bancária — uma obrigação regulatória dos bancos. Para ele, o verdadeiro impacto virá da definição das taxas de juros pelo governo.
Crédito mais caro e restrito
Vian alerta que a combinação de juros elevados, endividamento crescente no setor e a retração na oferta de crédito pelos bancos cria um cenário preocupante.
Fatores como perdas climáticas, preços abaixo do esperado, alta do dólar e aumento das taxas têm impulsionado pedidos de prorrogação de dívidas e até recuperações judiciais.
No Plano Safra 24/25, o governo prometeu um volume recorde de recursos, mas mais da metade veio de linhas com taxas livres, sujeitas ao mercado. “Os bancos misturaram crédito com taxas controladas e livres, acelerando a liberação. Só que muitos produtores já estavam no limite da capacidade de pagamento”, explica o especialista.
Como resultado, as instituições financeiras devem adotar critérios mais rígidos. “O freio está puxado. Só conseguirá crédito quem estiver com as contas em dia e sem pendências.”
Alternativas e seus custos
Com o crédito bancário mais escasso, produtores devem buscar opções como financiamentos com tradings ou instrumentos do mercado de capitais, como CPR, CRA e FIAGRO. O problema, segundo Vian, é que essas alternativas trazem custos ainda mais altos.
Para ele, a chave para amenizar a crise financeira no campo está em um seguro rural eficiente. “Com um seguro robusto, o endividamento seria menor. Sem isso, a conta sobra para o governo e, no fim, para a sociedade”, argumenta.
O Ministério da Fazenda justificou a suspensão das linhas subsidiadas como uma exigência legal, ligada à não aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025.
No Congresso, a LOA perdeu prioridade em 2024, ofuscada pela reforma tributária e pelo pacote fiscal do governo.
Plano Safra 25/26: só mais crédito resolve?
Para conter a inflação, o governo acenou com a possibilidade de ampliar os recursos no próximo Plano Safra. Mas, na visão de Vian, o problema vai além da oferta de crédito.
Ele destaca que muitos pequenos e médios produtores nem acessam financiamentos e que os maiores gargalos estão nos custos de produção, na logística e na carga tributária.
“O governo abriu mão dos estoques reguladores, e o diesel carrega 34% de impostos. Não basta injetar crédito sem uma política agrícola sólida”, critica. Ele também aponta a divisão do setor entre dois ministérios e dois planos safras como um obstáculo à eficiência. “O Brasil precisa de uma política agrícola consistente, que cuide de produção, armazenagem, logística e tributação. Sem isso, o produtor seguirá vulnerável a crises constantes”, conclui.
Fonte: Canal Rural